ID da obra: 29

Quem é você?

Slash
PG-13
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19 páginas, 2 capítulos
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Capítulo 2

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Deidara estava sentado em um corredor longo, branco e mal iluminado. Pela janela no fundo, o tempo parecia nublado ou talvez estivesse anoitecendo — ele não conseguia distinguir. Tentou se levantar e percebeu que estava preso por cintos cruzados sobre o peito. Preso a uma cadeira de rodas. Daquelas com rodas grandes. Como tinha ido parar ali? E o que, diabos, estava acontecendo? Deidara começou a examinar os cintos, tentando encontrar uma fivela. Do outro lado da porta à sua frente, ouviu vozes. Um homem elevou o tom de forma ameaçadora, enquanto o outro respondia tão baixo e calmo que mal dava para ouvi-lo. Com frustração, Deidara puxou o cinto e depois girou as rodas, decidido a tentar fugir dali sem sair da cadeira. As rodas não queriam se mover, mas ao inspecionar a estrutura, encontrou uma alavanca de bloqueio, que imediatamente liberou. Já quase comemorando a vitória, ele chegou ao fim do corredor… e ficou paralisado. Percebeu que não fazia ideia de onde estava ou para onde queria ir. E por que estava numa cadeira de rodas? Será que não podia andar? Estaria doente de algo terrível? Deidara levantou uma perna, depois a outra. Pareciam funcionar bem. Então… por que ele tinha vindo até aqui? Ou será que alguém o trouxe? Lentamente, voltou com a cadeira para o mesmo lugar onde estava antes. A porta de onde vinham as vozes irritadas se escancarou, e dois morenos de cabelos longos saíram para o corredor. Ambos usavam os cabelos presos em um rabo de cavalo baixo e bem arrumado. Um deles parecia ter pouco mais de vinte anos, o outro era mais velho e vestia um jaleco branco, o que deixava clara sua profissão de médico. O homem de jaleco se agachou diante de Deidara e perguntou: — Como você está? Ficou entediado aqui sozinho? Deidara deu de ombros em silêncio, perdido em suposições sobre quem estava falando com ele. Parecia um médico, mas também podia ser um amigo… ou até um sequestrador. A aparência daquele homem era um tanto inquietante. Não inspirava confiança, e o sorriso claramente não era sincero. — Ele acabou de esquecer tudo — suspirou o outro, levando a mão à testa — dá pra ver nos olhos dele. O homem de jaleco lançou um olhar rápido ao outro moreno, fez um som de surpresa, meio riso, meio suspiro, e voltou a perguntar: — Qual é o seu nome? Deidara não conseguiu encontrar uma resposta para aquela pergunta em sua memória, então continuou apenas olhando em silêncio para o homem à sua frente. No peito dele, pendurado, havia um crachá que informava que o dono do jaleco branco era o diretor geral do hospital, doutor em medicina, Orochimaru. Curioso… era nome ou sobrenome? E por que escreveram só isso, sem nome completo? — Você consegue falar? — perguntou novamente Orochimaru, tirando do bolso uma lanterninha. Como Deidara já havia ignorado as perguntas anteriores, agora ficou meio sem jeito de responder. Mas pensou que, cedo ou tarde, teria que falar de qualquer jeito. Então, com os lábios secos, respondeu baixinho: — Consigo. O médico iluminou seus olhos com a lanterna, fazendo com que ele fechasse os olhos com força. — Como está se sentindo? Tontura, dor de cabeça? Está com calor, frio? — ele pegou o pulso de Deidara e olhou para o relógio, contando os batimentos. Deidara esperou até que Orochimaru levantasse os olhos para ele de novo e então respondeu: — Tudo bem, não dói nada. — O senhor pode, pelo menos, fazer algo pra aliviar o estado dele? — perguntou, irritado, o rapaz mais jovem. — O senhor pode — respondeu Orochimaru, enfatizando a primeira palavra. — Deixe-o aqui. Vamos monitorá-lo e ele receberá todos os cuidados médicos necessários. O rapaz de cabelos negros apenas balançou a cabeça com impaciência e perguntou: — Quando é a próxima consulta? — Voltem no próximo domingo, por volta do meio-dia. Eu ainda preciso fazer mais alguns exames, mas não vai demorar tanto quanto hoje. Acho que em duas horas resolvemos tudo. Quando o médico desapareceu por trás da porta do consultório, Deidara se virou para o rapaz que ficou com ele naquele corredor longo e vazio: — E você, quem é? — Sou o Itachi, seu amigo. — Por que eu não me lembro de nada? — Então... Aconteceu uma coisa. Nossa cidade foi atingida por um vírus terrível. As pessoas começaram a se transformar em zumbis e atacar os outros. Deram pra gente uma vacina que causou essa tua perda temporária de memória. Já tá começando a escurecer, e os zumbis ficam ativos à noite, então é melhor a gente correr pra casa. Os olhos de Deidara se arregalaram com essa notícia, mas logo ele ficou com uma expressão mais cética. — Ah, para… Zumbis não existem. Itachi sempre inventava essas histórias com a esperança de que Deidara torcesse a boca e exclamasse: "Que besteira é essa que você tá falando?!", porque isso significaria que sua memória tinha voltado. Mas claramente não era o caso. — Eu também não acreditaria, se não tivesse visto com meus próprios olhos. Já capturaram quase todos, e os vacinados eles não atacam. Mas tua vacina deu errado, então ninguém sabe como eles vão reagir se te encontrarem. Deidara ficou tenso e mais uma vez percebeu que ainda não conseguia se levantar. — Por que eu tô numa cadeira de rodas? Eu não consigo andar? — Hospital... aqui é assim, vai que você passa mal de repente — Itachi deu um sorriso de canto — ou se transforma num zumbi... Mas tá bom, já vi que você tá legal. — Ele soltou a trava escondida em algum lugar atrás da cadeira e ajudou Deidara a se levantar. O hospital ficava nos arredores da cidade, e parte do caminho até em casa seguia pela margem do rio, por uma estradinha de terra estreita cercada por arbustos altos. Como sempre, Deidara encheu o companheiro de perguntas até que, de repente, foi diminuindo o passo. Seguindo o olhar dele, Itachi viu uma figura trôpega mais adiante, recortada em silhueta contra o fundo do rio e o céu vespertino em tons de roxo e azul. Aquele sujeito tinha os cabelos despenteados, espetando pra todos os lados, e usava roupas sujas, rasgadas em alguns pontos. Provavelmente era algum morador de rua que tinha dormido nos arbustos. Sem pensar muito, Itachi agarrou o antebraço de Deidara e o puxou pra baixo. Eles se agacharam ao lado de um arbusto próximo. — É um zumbi? — perguntou Deidara, alarmado. — É… Espero que ele não tenha te sentido. Vem, vamos sair daqui... — eles correram abaixados até o próximo arbusto. Mas o “zumbi” claramente já os tinha notado e, sabe-se lá por quê, começou a se aproximar. Ele disse algo com voz rouca, levantando uma mão no ar. Para Deidara, já convencido da existência de mortos-vivos, aquilo soou como um grunhido ininteligível. Ele agarrou o braço de Itachi, apavorado, e ordenou: — Corre! Os dois saíram correndo e logo viram uma senhora vindo na direção deles, carregando sacolas. Ao passar por ela, Deidara levantou os braços, agitado, e avisou: — Não vá por ali, tem um zumbi! A mulher olhou para ele com surpresa e, em seguida, acelerou o passo, espantando-o com um gesto irritado e resmungando algo zangada sobre “drogados”. — Espera — Deidara tentou parar a mulher de novo, mas Itachi o conteve. — Deidara, calma. Ela sabe o que tem lá. Ela tá vacinada, ele não vai chegar perto. O resto do caminho até em casa foi uma verdadeira operação de guerrilha — se escondendo atrás de prédios, fugindo de pedestres solitários. De certa forma, até foi divertido. Pra aliviar a tensão de Deidara, Itachi fazia piada o tempo todo. Aquela situação toda até ajudou ele mesmo a se distrair dos pensamentos ruins sobre a conversa frustrante com Orochimaru. Apesar de Deidara acabar se divertindo e os dois chegarem em casa de bom humor, Itachi se arrependeu cem vezes de ter inventado aquela história boba sobre zumbis. Ele passou a noite inteira sem conseguir dormir, tentando pensar em como poderia ajudar Deidara. Assim que amanheceu, mal podendo esperar mais, ele discou o número daquela única pessoa próxima com quem podia conversar sem medo de julgamento ou indiferença. — Alô... — atendeu uma voz ainda rouca de sono. — Eu te pedi pra não me ligar... — Sasuke, eu preciso da sua ajuda. — Uou... — houve um silêncio na linha — Agora fiquei curioso. O que será que aconteceu pra você me ligar... e não pro nosso pai, por exemplo? — Você sabe que a gente não se fala. E é difícil explicar tudo por telefone. Você consegue vir aqui? — Hmmm, deixa eu pensar... — Sasuke já sabia que iria, porque o irmão não ligava à toa. E, na verdade, os desentendimentos dele eram só com os pais. Ele parou de falar com Itachi porque o irmão era o elo com a família. Restava decidir se ia sair agora ou depois da aula. — É tão urgente assim? — Urgente. — Tá bom, me manda o endereço certinho. — Mal terminou a frase, Sasuke encerrou a ligação. Assim como Itachi, ele também não gostava de conversas longas ao telefone. Algumas horas depois, depois de ter dito a Deidara que eles eram colegas de curso e dividiam a casa, Itachi já esperava Sasuke na porta. — Oi. Antes de você entrar, tem uma coisa que preciso te avisar: o Deidara não se lembra de nada. Tenta ser gentil com ele. — O quê? — Sasuke perguntou com um tom sarcástico e confuso. — Eu te explico tudo em breve — Itachi lançou um olhar preocupado em direção ao quarto onde Deidara estava. — Só... não na frente dele. — Como quiser — disse Sasuke, ligeiramente desconcertado. Ele se inclinou um pouco e falou mais baixo: — Ele não lembra de nada mesmo? — Nada. — E faz tempo que ele perdeu a memória? Ele lembra de você pelo menos? — Ele nem lembra quem ele é — respondeu Itachi em voz baixa, apontando para os chinelos. — Cada manhã é como uma folha em branco. Balançando a cabeça, Sasuke recusou os chinelos e, medindo Itachi com o olhar, perguntou em sussurro: — E quanto a… você sabe… ele topa? — Pela expressão do irmão mais novo, Itachi entendeu o que ele queria dizer e ficou visivelmente sem graça. Ele ainda não se acostumara com o fato de que o garoto tinha crescido e agora falava com naturalidade sobre assuntos "adultos". — Hm, Sasuke… não. Vamos mudar de assunto. — Como assim, "não"? — Sasuke insistiu. — Você arranjou um amante por fora, é isso? Na prática, você até poderia forçar ele, né? De qualquer forma, no dia seguinte ele nem lembraria. Itachi lançou ao irmão seu olhar mais severo e falou com firmeza: — Para com isso. Eu nunca faria uma coisa dessas. — Tá bom, tá bom — o interesse sumiu do rosto de Sasuke, substituído por sua típica expressão de tédio —, só queria te provocar. Depois de uma breve apresentação entre Deidara e Sasuke, Itachi levou o irmão para um cômodo separado e colocou diante dele sua cópia do contrato de intervenção médica. — Aqui. Quero que você leia isso e me diga se tem algum jeito de cancelar esse contrato. — Eu ainda sou só um estudante de direito — riu Sasuke —, você tá colocando muita fé em mim. — Mesmo assim, ele virou as duas primeiras páginas com certa preguiça e acabou concordando: — Tá bom, vou dar uma olhada. — Isso é um absurdo de contrato! — exclamou Sasuke, parando em um dos artigos. — E você assinou isso?! — Eu sei. — Os olhos de Itachi transmitiam todo o desprezo que ele sentia por sua própria imprudência. — Espera… então o Deidara também concordou com isso. É por isso que ele tá assim? E como você escapou? — Eu não escapei. O Deidara aceitou fazer isso no meu lugar — respondeu Itachi, levantando-se e andando pelo cômodo. — Quem devia estar naquela condição era eu. — Pelo menos serviu pra alguma coisa — resmungou Sasuke com melancolia. — Nem começa! — o irmão mais velho fez uma careta. Desde que a família soube de seu envolvimento com Deidara, ele não recebeu apoio de ninguém. A família simplesmente cortou contato com ele. Só Sasuke, embora não fosse fã da "orientação esquisita" do irmão, decidiu que um adulto podia cuidar da própria vida. Ninguém é perfeito em tudo, afinal. — Então, o Deidara agora é legalmente incapaz e não pode cancelar o experimento… — começou a raciocinar Sasuke. — E você também não pode fazer nada, porque vocês não têm nenhum vínculo jurídico… Você já procurou algum advogado? — Eu só descobri isso ontem à noite. Liguei pra alguns escritórios, mas o atendimento mais próximo que consegui é só daqui a duas semanas. — E ele tem algum parente? Alguém que possa se responsabilizar por ele? — Não. Só tem um avô, mas eu nem sei quem ele é, onde mora, ou se ainda está vivo... — Então a gente precisa encontrar esse avô — disse Sasuke, pensativo. — Por enquanto, me manda tudo o que você souber sobre o Deidara e esse avô. Nome completo, data de nascimento, endereço, qualquer coisa. Vou ver se consigo descobrir algo por meio de conhecidos. Dando um fio de esperança a Itachi, Sasuke foi embora. O resto do dia, ele não conseguia se concentrar em nada, leu uma tonelada de informações na internet. Sentindo seu estado de espírito, Deidara também ficou incomumente calado. Mais pro fim da tarde, tentando se distrair assistindo a talk shows sem sentido, Itachi pediu uma pizza. Ele não tinha forças morais nem pra cozinhar. Começou a garoar lá fora. O interfone no portão tocou: era o entregador. Totalmente imerso em seus pensamentos, Itachi nem pensou em abrir o portão — simplesmente saiu de casa. De calça de moletom, chinelos e camiseta. Pagou o entregador, pegou o pedido… e só então percebeu que havia esquecido as chaves. A porta tinha se fechado sozinha. Teve que tocar a campainha várias vezes, ficando de pé na garoa fina com a caixa quente nas mãos. Deidara demorou a abrir a porta. E Itachi já sabia o porquê. Aqueles olhos — um pouco assustados, curiosos e sem entender nada — estavam ali de novo. Itachi sentiu uma mistura amarga de cansaço, irritação e desamparo. — Boa noite — disse Deidara com cautela. Ele abriu a porta só um pouco e não deu espaço para o visitante entrar. O silêncio se prolongava. — Boa noite — Itachi enfim juntou forças para falar. — O senhor pediu uma pizza. Eu trouxe. — Eu? — perguntou Deidara, surpreso. — Sim — respondeu o rapaz, mostrando o recibo que pegou com o entregador. — Está com este endereço. Aqui está o valor do pedido. Deidara olhou confuso para dentro da casa, mas aparentemente não encontrou nenhuma resposta com aquele gesto, então disse: — Acho que… eu não tenho dinheiro. — Hm — Itachi fez uma expressão pensativa e sugeriu: — Trabalhei o dia inteiro, estou exausto e está chovendo lá fora. Que tal o senhor me oferecer um pedaço da pizza e ficamos quites? Um pedido um tanto ousado vindo de um entregador. Mas Itachi tinha certeza de que Deidara não recusaria. Sentia que, mesmo sem lembrá-lo, no fundo o loiro o reconhecia. Ainda o sentia, ainda o amava. E por mais absurdos que fossem os cenários que Itachi imaginasse, Deidara sempre confiaria nele. Observando atentamente o visitante, o loiro deu um passo para trás e abriu mais a porta. Sem saber direito para onde conduzir o convidado, Deidara parou no meio do corredor. — Ah, meu talk show favorito — comentou Itachi, espiando um dos cômodos onde a televisão ainda estava ligada. — Posso? — Sim — respondeu o loiro, aliviado. Tudo aquilo era estranho, mas já estava se tornando um pouco familiar. Itachi sentia culpa por estar constantemente enganando, como se estivesse brincando com os sentimentos de uma pessoa. Mas não via outra saída. Repetir o mesmo dia várias vezes, explicando quem era quem e o que estava acontecendo, fazia com que ele se sentisse preso numa jaula sem portas. No dia seguinte, Sasuke ligou: — Encontramos o seu avô. Vou te mandar o endereço agora. Dá um pulo lá. — Obrigado, Sasuke! — exclamou Itachi, feliz. — Como você conseguiu achá-lo? — Quase todo professor aqui tem os seus contatos — respondeu o rapaz com um sorriso na voz. — Beleza, se eu descobrir mais alguma coisa sobre o teu caso, te aviso. Sem esperar resposta, Sasuke encerrou a ligação. Naquela manhã, segundo a versão de Itachi, Deidara estaria saindo de férias para visitar o avô, depois de uma missão secreta na qual foi vítima de criminosos do governo — e mesmo sob o efeito de drogas pesadas, não entregou seus companheiros. A viagem levou algumas horas. O endereço indicado ficava numa vila quase abandonada. Tudo ao redor exalava um ar de decadência e abandono, mas, para alívio de Itachi, a casa que procuravam parecia bem cuidada e organizada, apesar do cenário ao redor. Eles foram recebidos por um senhor robusto, de ombros largos. Ao ver o carro se aproximando, ele se animou visivelmente — parecia que, para ele, pouco importava quem eram os visitantes; qualquer um seria bem-vindo com a mesma hospitalidade calorosa. O dono da casa largou o machado com o qual cortava lenha no quintal e, limpando as mãos, saiu para recebê-los. — Opa, temos visita! — disse com um sorriso largo e uma voz grave, que nem combinava com a palavra “velho”. — Sejam bem-vindos, sejam bem-vindos! Se perderam ou estão procurando por alguém? — Boa tarde — respondeu Itachi com um sorriso, saindo do carro. — Acho que viemos ao lugar certo. Deidara saiu do banco do passageiro. Ele não reconheceu o avô — mas o homem, por outro lado, assim que inspirou fundo, correu ao encontro do neto com os braços abertos. — Deizinho! Nunca imaginei que você ia me visitar! Como cresceu... Tá magro demais. É isso que a cidade faz com a gente… Ele se apresentou como Jiraiya e, ao convidar os visitantes para entrar, começou a se apressar para pôr a mesa. As perguntas vinham em enxurrada, e Itachi logo entendeu que esperar por um momento mais oportuno para contar o verdadeiro motivo da visita era inútil. Pediu então que Jiraiya o acompanhasse por um instante e, sem entrar em muitos detalhes, explicou a situação de forma breve. O avô, como se já estivesse preparado para algo do tipo, ouviu com atenção, refletiu um pouco e propôs que comessem algo antes de mais nada, afinal estavam vindo de viagem. Parou de bombardear Deidara com perguntas, mas, para evitar qualquer constrangimento, passou a contar animadamente histórias da infância do neto e das suas próprias ocupações no campo. Mais tarde, ele analisou os documentos que Itachi havia trazido e garantiu, com tom encorajador, que já tinha lidado com situações bem piores. Até o final da noite, ora fazia ligações, ora voltava até os rapazes para conversar sobre as maravilhas das frutas e cogumelos que cresciam na floresta da região. Ele sorria com tanto entusiasmo que Itachi acabou contagiado pelo otimismo e deixou de se sentir tão desanimado. Na volta, já eram três no carro. Jiraiya estava um pouco preocupado por deixar as galinhas e a cabra sozinhas por alguns dias, mas conseguiu combinar com uma vizinha — uma senhora magrinha e já bem idosa — para cuidar dos bichos enquanto ele estivesse fora. Depois da chegada de Jiraiya, ele e Itachi visitaram uma porção de lugares diferentes. Descobriu-se que o avô do Deidara também tinha seus contatos — graças a isso, um advogado local concordou em atendê-los sem demora, e o documento de tutela do Deidara foi emitido em apenas alguns dias. Por fim, Jiraiya foi pessoalmente até Orochimaru. Itachi ainda descobriu que os dois já se conheciam desde a juventude... Para o encontro final com Orochimaru, eles foram para um lugar bem diferente do que Itachi esperava. Jiraiya sabia exatamente onde procurá-lo — aparentemente, certos laços, mesmo rompidos, nunca são esquecidos. Eles chegaram a um prédio antigo, que segundo Jiraiya fora um centro de pesquisa no passado, agora meio abandonado, meio habitado por aqueles que preferiam permanecer nas sombras. — Espere aqui — disse Jiraiya, saindo do carro. — Essa conversa é entre velhos. Itachi ficou no carro, olhando com tensão para a entrada. Ele não sabia exatamente do que falavam lá dentro, mas, pelos trechos de voz que atravessavam a parede, a conversa estava longe de ser amigável. A voz de Orochimaru soava alta, arrastada, com aquele tom peculiar que fazia até as paredes parecerem mais frias. Várias vezes ele riu — um riso agudo, desagradável, como se tudo aquilo fosse uma encenação sem importância. Mas Jiraiya não recuava. Sua voz carregava firmeza, quase um desafio. Não parecia que pedia. Exigia. Depois de quase uma hora, a porta se abriu novamente, e Jiraiya saiu. Parecia cansado, mas satisfeito. — Pronto — disse ele, entrando no carro. — A cobra, como sempre, enrola, mas no fim concorda. Vai ser feito. — Sem complicações? — perguntou Itachi, desconfiado. — Ha. É o Orochimaru — sorriu Jiraiya. — Com ele, nunca é simples. Mas ele deu a palavra. E ele... se quebra essa palavra, é só com quem ele não respeita. Durante algum tempo, seguiram em silêncio. Jiraiya olhava pela janela, como se revisse mentalmente o passado, os tempos em que Orochimaru ainda não era o que se tornara. — É estranho — murmurou ele após alguns minutos. — Sabe, apesar de tudo o que aconteceu entre nós... ainda assim, espero que Orochimaru não esteja completamente perdido. Itachi acordou com um raio de sol forte passando pela cama. Castigo por não ter se lembrado de fechar bem as cortinas na noite anterior. Após se lavar rapidamente, foi direto para o quarto onde Deidara dormia. O rapaz estava sentado na cama, com as pernas cruzadas, e olhou para Itachi com curiosidade assim que ele entrou. O Uchiha não sabia o que dizer — a expectativa por algum tipo de milagre apertava seu peito a ponto de fazê-lo esquecer de respirar. Já faziam três dias desde que Orochimaru havia retirado do corpo de Deidara, com uma pequena cirurgia, a bomba que liberava lentamente uma substância tóxica em seu organismo. E agora, todas as manhãs, a grande dúvida de Itachi era se Deidara se lembraria do dia anterior. Deidara ficou em silêncio por um tempo. Depois perguntou: — Quem é você? O tom não era nem assustado, nem confuso, como costumava ser... mas Itachi não percebeu isso. Já estava preparado para a possibilidade de que o rapaz precisasse de mais tempo para se recuperar. Pensar que isso talvez nunca acontecesse... ele simplesmente não queria. Mesmo assim, uma pontada de desespero lhe atravessou o peito. Deidara se levantou da cama e, ao se aproximar de Itachi, olhou fundo em seus olhos: — Eu realmente não sei como devo me sentir em relação a você agora. — O quê? — Itachi ficou completamente confuso; Deidara nunca tinha feito esse tipo de acusação antes. — Você tá falando sério? Zumbi?! — exclamou Deidara, e com um brilho travesso nos olhos azuis, levantou os braços dramaticamente — Que besteira foi aquela que você me contou?! Como é que eu vou confiar em você agora? — disse ele, colocando teatralmente a mão na testa como se estivesse indignado de verdade. No segundo seguinte, saindo finalmente do choque, Itachi abraçou Deidara com força, girando com ele algumas vezes antes de parar e sussurrar: — Você lembra... — Impossível esquecer uma coisa dessas! — exclamou Deidara de novo, colando seus lábios aos de Itachi, que o apertava ainda mais forte contra o peito. Uchiha encostou o rosto no pescoço dele, inalando com prazer aquele cheiro familiar da pele, agora ainda mais intenso e inebriante. — Eu senti tanto a sua falta. — Mas eu sempre estive com você — respondeu Deidara. — Eu sei — respondeu Itachi com contenção, incapaz de expressar nem uma fração da dor que sentia todos os dias, convivendo com aquela versão cruel e irônica do seu amado. Interrompendo mais um beijo, Deidara olhou para Uchiha com um ar de repreensão: — E eu acreditei em você. Você entende isso? Eu, caramba, acreditei em toda aquela baboseira! — Foi mal — respondeu Itachi, absolutamente feliz e sem nem um pingo de arrependimento na voz —, sabe como é... era difícil não enlouquecer. — Mmm — murmurou Deidara sarcasticamente —, não vou esquecer isso tão cedo. Pode ter certeza que vou dar um jeito de me vingar! — tentou parecer bravo, mas o sorriso escancarado no rosto denunciava o contrário — Me solta, preciso ir no banheiro. Mas Itachi não conseguia soltá-lo tão facilmente, como se temesse que, ao abrir os braços, ele o perderia de novo — dessa vez para sempre. A fonte barulhenta e adoravelmente caótica que ele tanto amava poderia voltar a ser apenas uma cópia sem vida, presente, mas completamente fora de alcance. Então, jogando o protestante Deidara sobre o ombro, ele mesmo o levou até o banheiro. Apesar de ainda faltar concluir o processo contra Orochimaru, iniciado por Jiraiya, Itachi tinha certeza de que, enquanto Deidara estivesse bem, nada nem ninguém poderia abalar sua fé no futuro. E sim — eles precisavam visitar o Jiraiya de novo, o quanto antes…
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