Capítulo 1
13 de agosto de 2025 às 09:25
O sol derramava ouro líquido sobre Seul, cozinhando o asfalto e os carros, criando uma languidez pesada. O ar zumbia com o calor do verão, mas dentro do Estúdio Echo, reinava uma atmosfera fresca, quase sagrada, antes da tempestade. O zumbido constante do ar condicionado perturbava a paz, pontuado apenas pelo raro eco de passos no piso envernizado. Aqui, neste templo da coreografia, os Saja Boys se preparavam para mais uma conquista.
Weibi quebrou o silêncio primeiro, afastando uma mecha de cabelo neve da testa. Com a elegância precisa de um esgrimista — uma curva graciosa em direção à garrafa d'água, longos dedos manicurados envolvendo o plástico — bebeu devagar, com a dignidade de um príncipe. Vestia calças de moletom pretas perfeitamente ajustadas e uma regata branca solta com uma estampa de unicórnio prateado. Gotas traçavam sua linha maxilar, desaparecendo sob o colarinho. As sombras sob suas maçãs do rosto altas pareciam mais profundas que o habitual.
— Espero que as fãs não causem um tumulto na saída hoje, — sua voz, baixa e aveludada, cortou o ar. — Da última vez, Romance quase perdeu sua 'obra-prima'. — Ele acenou com a cabeça para Romance, indicando o caderno cheio de desenhos que ele tentava esconder.
Romance, encostado na parede espelhada, bufou. Começou a alongar o ombro, uma mão apoiada no vidro frio da janela panorâmica. Vestia uma camiseta rosa-choque justa, combinando com seu cabelo, sob um moletom preto aberto e calças de moletom cinzas rasgadas. Sua pele pálida como porcelana parecia quase translúcida sob o holofote brilhante. Seu olhar normalmente zombeteiro tornou-se momentaneamente vazio e distante, focado internamente no passado, mas logo voltou ao presente enquanto observava a vida preguiçosa da cidade lá embaixo.
— A arte exige sacrifício, Weibi. Ou você esqueceu por que estamos aqui? — Ele sorriu com ironia, mas não havia calor no sorriso. — Cada alma presa em nossa rede... por causa dessa... batida... — ele encurvou o lábio com desdém, — ... nos aproxima do objetivo. Embora ouvi-la seja uma tortura para os ouvidos.
Abba, sentado no chão em um espacato profundo, apenas grunhiu roucamente. Seu corpo poderoso, vestindo calças de moletom vermelho-sangue e uma regata preta de alcinha com um decote profundo na cintura, parecia esculpido em pedra. Alongou-se para frente, tocando a testa no joelho, depois arqueou-se para o outro lado. Agarrando sua garrafa d'água de um litro, deu vários goles ávidos, água escorrendo por seu pescoço forte.
— A música é uma ferramenta, — raspou "Cubo", enxugando a boca com o dorso da mão. — Como meus abdominais fabulosos. O importante é o golpe acertar. — Ele piscou para o vazio, presumivelmente para fãs invisíveis. — E ouvidos... — acenou com desdém, — ... eles se fecharão sozinhos para as canções dessas caçadoras. Ou nós os fecharemos.
Uma risada leve, quase sem som, veio do canto. Mystic deslizou pelo chão em uma série de movimentos suaves, ondulantes, aquecendo as costas. Seus cabelos brancos, tingidos de lilás, estavam presos em um rabo de cavalo desalinhado, revelando um pescoço esguio. Vestia um agasalho azul-escuro com linhas brancas abstratas. Quando levantou a cabeça para ajustar a munhequeira, a luz capturou seus olhos por um instante — inteiramente negros, sem branco, como duas noites sem lua e sem fundo. Pegou uma garrafa d'água e, com a graça semelhante à de uma garça, a chutou levemente com a ponta do tênis. A garrafa rolou até Jinu. Mystic deu um gole minúsculo.
— Palavras são uma ferramenta poderosa, Abba, — Mystic sussurrou, sua voz como o farfalhar de páginas. — Elas se enroscam nos ouvidos, penetram mais fundo que qualquer golpe. Uma palavra errada no refrão... e uma alma pode escapar. — Sorriu com charme, mas nenhum de seus "amigos" reagiu, embora o hábito de esticar os lábios estivesse arraigado.
Jinu, encostado na barra, suspirou. O líder parecia cansado, mais velho que seus eternos vinte e poucos anos. Um moletom azul-escuro simples e calças de moletom pretas eram seu uniforme habitual. Massageou o pulso; sob o tecido, uma antiga e sinistra marca — o estigma de Gwi-Ma — brilhou brevemente e se apagou. Ele capturou os reflexos dos outros no espelho: Weibi com sua precisão fria, Romance com sua vaidade cáustica, Abba com sua força bruta, Mystic com sua profundidade silenciosa e assustadora.
— O fim justifica os meios, certo? — murmurou, mais para si mesmo, olhando para seu reflexo. — Interpretamos nossos papéis, cantamos as músicas... aprisionamos almas. Escravos do sistema... — O amargor tingiu sua voz, rapidamente suavizado por sua habitual máscara de indiferença. Afastou-se da barra. — Certo, chega. Hora de ensaiar. Mais um 'hit' para nossas... fãs devotas.
Reuniram-se no centro do salão como sob comando. Um raio de sol penetrando pelas persianas iluminou suas figuras, destacando momentaneamente sombras quase imperceptíveis sob sua pele, estranhas mudanças em seus olhos, sinais lutando para emergir — um lembrete de quem eles eram e no que se haviam tornado. Mas foi fugaz.
O silêncio foi despedaçado pelo ritmo. Uma batida aguda, insistente, rasgou o estúdio vinda do nada. Moviam-se como um único mecanismo, cada um com seu estilo próprio. Weibi deslizava pelo parquet com uma graça glacial, cada passo, virada de cabeça, movimento de braço calibrado ao milímetro e irradiando carisma devastador. Seus cabelos neve brilhavam como estrelas sob os holofotes. Romance acrescentava fluidez cáustica, seus movimentos atingindo a batida com perfeição, mechas cor-de-rosa relampejando como línguas de fogo sobre porcelana branca. Abba canalizava força crua, torrencial, em cada batida de calcanhar ou torção aguda do torso, seus abdominais dançando sob a regata, seu olhar focado e astuto. Mystic fluía entre eles como fumaça, seus movimentos ondulantes e viradas de cabeça hipnóticos, sua juba branco-lilás no rabo de cavalo desalinhado balançando no ritmo. Jinu, no centro, ditava o ritmo, movimentos afiados, energéticos, embora fundo em seus olhos escuros repousasse a familiar fadiga. O suor já prateava suas têmporas, sua respiração acelerava.
A voz de Mystic, normalmente um sussurro, agora fluía fria e pura como um riacho sobre a batida:
"Um raio de sol desvanecendo na névoa gelada da noite,
O vento sussurra: 'Dá-me tua alma...'
Tu te esqueces, pois agora só eu estou em teu sight,
Tu te desvaneces... Silêncio... Voa pra longe..."
Mystic tropeçou. Só um pouco, uma falha microscópica em seu deslizar impecável. Seus olhos arregalaram-se por um segundo, como se visse algo dentro de si, e seus lábios, esticados em seu habitual sorriso de palco, tremeram. Aquelas palavras, arrancadas de um velho poema sobre amor perdido e agora ganchos para almas, queimavam-no por dentro. Jinu, captando aquele olhar no espelho, apenas cerrou ligeiramente a mandíbula. Ele entendia muito bem. Como doía quando o próprio passado se tornava uma arma. Mas não houve pausa — a dança engoliu a momentânea fraqueza.
Weibi, executando um passo complexo com uma volta, congelou subitamente a meio do movimento. Seus deslumbrantes olhos azuis-celestes deslizaram sobre os reflexos no espelho, focando-se bruscamente em um canto escuro do salão não atingido pelos holofotes. Lá, na sombra fresca, o ar começou a ondular. Formas apareceram — indistintas, oscilantes, várias delas. E um cheiro... Um odor enjoativamente doce de decadência, misturado com a poeira das eras, perfurou o aroma de verniz fresco e suor.
A música parou ao sinal de Jinu. Os dançarinos congelaram na pose final, a respiração ainda rápida, mas agora cautelosa. Weibi, mantendo sua posição elegante, virou ligeiramente a cabeça na direção do canto. Sua voz era baixa, carregando o peso do comando:
— Vocês se mostraram. Falem. E sejam rápidos.
As sombras deslocaram-se para frente — aglomerados de escuridão envoltos em sombras de asas esfarrapadas, patas com garras, braços excessivamente longos terminando em ganchos. Olhos — fendas amarelas ou órbitas vazias — brilhavam com uma fome insuportável. Um, ligeiramente maior, com chifres como osso esfacelado, adiantou-se, rangendo como dobradiças enferrujadas:
Príncipe... — o tom misturava terror e reverência ávida.
Fome... Fome longa. A Terra... se estende.
Almas... agarram-se à luz. Nós... nada temos para nos alimentar...
Escuridão... Queremos nos alimentar...
Engoliu algo invisível, emitindo um som de gorgolejo. Quando... o banquete?
Romance enrugou o nariz com nojo, desviando o olhar das criaturas. Abba apenas cerrou os punhos; algo familiar — um entendimento bestial da fome — bruxuleou em seus olhos castanhos. Mystic permaneceu imóvel, encarando o chão. Jinu deu um passo à frente, entre Weibi e as sombras miseráveis. A fadiga do líder deu lugar momentaneamente a uma pesada e amarga responsabilidade. Ele via a si mesmo em seu vazio insaciável. Nós sabemos, Jinu falou com uniformidade e firmeza.
Paciência. Em breve... o show. As fãs virão. Elas gritarão e amarão, apaixonar-se-ão, renunciarão voluntariamente às suas almas. Render-se-ão ao ritmo. Ele fez uma pausa, olhando diretamente para os estreitos olhos amarelos do demônio maior. E então... o banquete começa. Nós os alimentaremos. Agora, saiam. Não atrapalhem o ensaio.
As sombras oscilaram, sibilando algo simultaneamente grato e horripilante. O ar no canto ondulou novamente; elas se dissolveram, levando consigo o fedor enjoativo. Felizmente, o ar condicionado logo dissipou o cheiro. O estúdio estava limpo, fresco, ensolarado novamente. Apenas um leve brilho no ar onde haviam aparecido e um pesado silêncio permaneceram como lembretes da visita.
Weibi endireitou os ombros com suavidade, seu rosto impassível, quebrando o silêncio primeiro, dirigindo-se ao espelho como se falasse ao próprio reflexo, carregado de eras ocultas:
— Eles exigem, apressam a colheita fresca, — declarou com frieza. — Comecem do início. Poliremos até a perfeição. — Seu olhar varreu os outros. — Que cada som, cada gesto... as conduzam ao banquete. Nenhum erro. — Quase sentiu uma pontada de dor desesperada, mas correntes de sigilos pareceram deslizar sobre seus braços, acalmando sua mente.
Silenciosamente, retomaram suas posições iniciais. O ritmo irrompeu novamente, a dança hipnótica recomeçou — tão impecável, tão cativante quanto antes. Mas agora, uma sombra se escondia dentro de seus movimentos — não aquela sob a pele, mas a pesada sombra de uma promessa feita ao próprio Gwi-Ma. E correntes invisíveis tilintavam, ligando não seus corpos, mas as almas dos mortos há muito tempo que não encontravam paz. Promessas de um banquete para sombras famintas. Ensaiaram até tarde da noite, até que a dança se tornasse parte deles.