Capítulo 1
16 de maio de 2025 às 06:01
O outono em Surrey sempre chegava de repente.
Os galhos das tílias junto ao portão da propriedade dos Greengrass se despiam quase da noite para o dia, como se até as árvores sentissem o frio do distanciamento que pairava naquela casa. Daphne estava à janela, apertando entre os dedos uma carta — um envelope amarelado, com "Srta. D. G." escrito de forma desajeitada.
Ele escrevia raramente, com pouca habilidade, mas em cada palavra havia mais verdade do que em toda a biblioteca de discursos do pai sobre dever e dignidade. Ronald Weasley — filho de um cavalheiro sem terras, ruivo, sempre com remendos nos cotovelos e sonhos nos olhos.
Conheceram-se no verão, quando o velho barão Greengrass permitiu que a família dele alugasse uma casinha junto ao lago. O pai de Daphne os via quase como criados, mas ela enxergava em Rony algo mais — orgulho sem arrogância, inteligência sem ambição e um coração que batia no mesmo ritmo que o dela.
— Tem certeza? — sussurrou Astoria, sua irmã mais nova, observando Daphne dobrar um vestido simples e colocá-lo numa maleta surrada.
— Absoluta. Ele me espera no portão norte, como combinamos. Ao amanhecer.
Astoria assentiu, mas havia medo em seus olhos — não do pai, nem da desonra, mas do desconhecido. Daphne, por outro lado, sentia-se viva pela primeira vez. Nenhum título, nenhuma riqueza, nenhuma joia da família valia mais do que a liberdade de estar com quem ela própria havia escolhido.
A manhã era úmida, enevoada. Os cavalos de Rony resfolegavam, impacientes, batendo os cascos na estrada encharcada. Ele estava junto ao portão, de casaco escuro e alforje nas costas, e quando a viu — sorriu.
— Você veio.
— E você duvidava? — Ela riu, apertando a maleta contra o peito.
— Nem por um segundo.
Partiram antes que os criados acordassem. Atravessaram o bosque, passaram por uma aldeia onde ninguém conhecia seus rostos. Ele alugou um quarto numa estalagem e, pela manhã, foram à igreja da paróquia registrar o casamento.
Casaram-se no mesmo dia. Sem testemunhas, sem flores, sem a bênção dos pais. Apenas o velho vigário, que cheirava a incenso e livros, e as alianças compradas com suas últimas moedas.
— Agora você é a Sra. Weasley — disse ele, beijando as mãos dela.
— E você é o homem mais corajoso do mundo.
À noite, sentaram-se diante da lareira, num quarto pequeno de teto baixo. Ela espalhou sobre a mesa algumas moedas — tudo o que tinham. Ele colocou ao lado um tinteiro e um maço de papel.
— Eu vou escrever — disse ele. — Contos, artigos... o que for. Vamos conseguir.
— Nós já conseguimos — respondeu Daphne, e, pela primeira vez em muito tempo, não tinha medo do amanhã.