ID da obra: 27

Familiar estranho

Geral
NC-17
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planejado Mini, escrito 2 páginas, 1 capítulo
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Prólogo

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Data do incidente: 16 de setembro de 1989 Local: Canteiro de obras (endereço exato em anexo) Tipo de ocorrência: Invasão não autorizada / Incidente com resultado fatal No início da noite, um grupo de menores composto por quatro rapazes e duas moças entrou ilegalmente no canteiro de obras supracitado. Como resultado do incidente, presumivelmente causado por um vazamento de gás, foi confirmada a morte de três pessoas (dois rapazes e uma moça). Um quarto rapaz foi hospitalizado em estado físico grave. Dos dois membros restantes do grupo: uma das moças fugiu em pânico logo após o ocorrido; o último rapaz deixou o local com um pequeno atraso. Laudos médicos: A moça sobrevivente não apresentou lesões físicas significativas. Seu estado mental foi considerado estável, exceto por amnésia parcial devido ao choque e certa apatia emocional. O último integrante apresentou bom estado físico geral, exceto por algumas mechas de cabelo grisalho. Não foram detectados sinais de intoxicação por gás. Sua condição psicológica foi avaliada como instável, porém ainda dentro dos limites da normalidade. Um trecho insignificante de um arquivo esquecido, num posto policial pequeno demais pra importar a alguém. Na realidade, as coisas foram bem diferentes. E muito mais aterradoras. Os dementadores — malditos dementadores — voltaram a agir com uma liberdade preocupante. Ninguém sabe ao certo o que os fez poupar duas crianças intactas e uma alma meio devorada, mas foi isso que aconteceu. Um surto mágico espontâneo e de alta intensidade foi registrado. Supõe-se que esse fenômeno tenha repelido o dementador (havia apenas um, mas era absurdamente poderoso). As memórias dos poucos que viram algo foram devidamente apagadas, não restam indícios visíveis. Ninguém vai cavar mais fundo. Um relato resumido e informal de um outro arquivo, guardado onde os olhos dos trouxas jamais alcançarão. — AAAAAAAAAAAAAAAAAA Comentário geral sobre o incidente, dado pela única testemunha e principal envolvido: — AAAAAEEAAAAUUAAAAAAAAAAAAEEEAAAAA — Se traduzirmos os gritos atuais e anteriores para linguagem humana, o resultado seria algo como: "Deus, ajuda! Sai, criatura maldita! Alguém, por favor! Meu Deus, meu Deus!" Eliminando a linguagem de baixo calão — que era rudimentar e se repetia muito — a essência era essa. Naquele momento, o garoto desejou com toda a alma fazer algo, qualquer coisa, para salvar os outros. Assistia, impotente, àquela criatura saída dos piores contos de fadas e pesadelos despedaçar, devorar, torturar seus conhecidos — talvez não amigos, mas ainda assim humanos. E fazia isso de forma horrível, mesmo que rápida. Ele não tinha dúvidas: a criatura os estava matando. Pessoas não vivem sem alma, e era exatamente isso que ela devorava. Os gritos de pânico, de agonia animalesca, que logo se calavam, só reforçavam sua certeza: não havia mais quem gritasse. — Ha-ha-ha — gargalhou o SER. Flutuava como um cadáver em túnica negra. O capuz escondia o rosto, mas no lugar da boca havia um vazio abissal — o mesmo que acabara de roubar até a esperança de uma vida após a morte das crianças. O corpo tinha quase três metros de altura. Dos trapos pútridos saíam mãos horrendas, secas, envoltas por uma pele cinzenta e brilhosa, coberta de muco e crostas mortas. Pareciam os braços de uma múmia deformada. Sua voz era uma mistura de unhas em lousa, pregos em vidro, e o rangido de um balanço velho demais pra continuar existindo. O riso era ainda pior. — Ha-ha-ha — O som fez o garoto atingir um novo cume de terror. Seu cabelo, antes castanho até os ombros, começou a embranquecer visivelmente. — Jovem mago, você claramente não entende o que está oferecendo! Ser MEU familiar? Qualquer mago, mesmo o mais miserável aprendiz, diria que isso é uma ideia horrível — especialmente com o tipo de contrato que você me trouxe. Mas que seja. Aceito. Ha-ha-ha. — Que os deuses não permitam ouvir esse riso num beco escuro; pesadelos por toda a vida seriam garantidos. Então o monstro avançou sobre o menino e, literalmente, entrou em seu corpo. Penetrou pelos ouvidos, nariz, boca, olhos e até pelos poros. Se não fosse tão doloroso, talvez o garoto até conseguisse brincar que havia sido violado de forma grotesca. Mas a dor era insuportável. Um inferno pessoal e eterno. Gritos desesperados dos dois se espalharam pela região por cerca de duas ou três horas. Felizmente — ou infelizmente — ninguém os ouviu. O local era isolado, o porão bem vedado, e talvez o dementador tenha feito algo a mais. Não se sabe ao certo. Durante todo esse tempo, os dois pareciam "fundir-se". Ou, mais precisamente, o dementador continuava se infiltrando no garoto, transformando-se numa massa nojenta de lodo negro e podre. Ver uma criatura de três metros sendo absorvida por um corpo infantil de pouco mais de um metro e meio era algo que beirava o absurdo — mesmo para o mundo mágico. Assim, depois de atravessar todos os círculos do inferno, o garoto adquiriu um familiar monstruoso. Ou, quem sabe, foi o contrário: o monstro é que o conquistou.
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