K.D.Balmont
Minha mãe parece ter sofrido uma depressão pós-parto prolongada, que só piorou com a partida do meu pai. Bebia sem parar e não saía da cama. Minha avó cuidava de nós. No sexto ano, minha mãe finalmente conseguiu se levantar. Levantou-se e me colocou em um orfanato. Espero que ela tenha ficado melhor. Nunca me adaptei ao grupo. Minha avó vinha me visitar nos primeiros anos — a última luz na janela. Mas logo ela parou. Fiquei completamente sozinho. Algumas crianças tentaram ser minhas amigas, mas nunca por muito tempo. Todos que eu amava, todos a quem me apegava um pouco — me abandonavam. Eu entendia que era difícil para eles. As pessoas não gostam quando alguém é melhor do que elas. Aprendi a ler cedo. Lia muito e com um prazer indescritível, o que me ajudava a lidar com a solidão. Aprendi a escrever cedo. Escrevia cartas para minha mãe, pedia à minha avó para entregá-las quando ela ainda me visitava. Escrevia cartas para minha avó quando ela parou de vir, pedia aos cuidadores para enviá-las. Mais tarde, descobri que ninguém as entregava. Escrevi essas cartas por sete anos depois de chegar ao orfanato. Os cuidadores as guardavam em uma gaveta. Desconfiei antes, mas continuei escrevendo. Perguntava a eles, e diziam para eu não me preocupar, que estavam entregando. Nunca recebi uma resposta. Talvez minha mãe não conseguisse escrever, mas eu esperava que minha avó lesse as cartas para ela. Parei de escrever quando as crianças encontraram as cartas e riram delas em voz alta. Zombavam de mim e comentavam cada palavra que eu escrevia. Parei de escrever completamente. Desde aquele dia, não escrevi mais nada. Nem mesmo na escola. Levaram-me a um psicólogo. Lá, me recusava a falar e negava tudo. Mas conseguiram me fazer pegar uma caneta novamente. No começo, eu estava com raiva. Raiva das crianças, dos cuidadores, mas depois a raiva deu lugar a um vazio absoluto. Nesse tempo, acumulei muitas palavras. Quase nunca falava com ninguém, só com o papel, e depois parei de vez. Mas não escrevia mais cartas. Escrevia poemas, contos, diários que escondia com cuidado. Quando escrevia, sentia um alívio. Eu entendia como era difícil para minha mãe. Mas tinha raiva dela por ter me descartado assim. Raiva por não poder mais falar com minha avó. Tentava não sentir raiva, porque sabia o quanto ela sofreu. Mas essa raiva só durou no começo — os primeiros dias, talvez uma semana ou um mês. Depois, vinha em ondas raras. Aos quatorze anos, depois de entender que ela nunca recebeu minhas cartas (mesmo que não por culpa dela), uma mágoa inexplicável tomou conta de mim, junto de um amargor constante e um nó na garganta. À noite, chorava no banheiro. Nunca rejeitei nem mesmo pensamentos de suicídio. Muitas vezes imaginei como seria melhor ter sido morto: um aborto, jogado no lixo ao nascer, afogado como um gatinho. Minha mãe queria isso, dizia muito, e eu lembrava bem, mas minha avó não deixou. Na época, eu tinha medo e chorava, mas hoje vejo que teria sido melhor. No verão, quando nos levavam para o acampamento, tentei me afogar no rio várias vezes. Sempre me impediam. Tentava fugir à noite, mas me pegavam. Passaram a me colocar no alojamento dos monitores para ter certeza. Parecia que alguém se importava, mas era ilusão. Só estavam sendo pagos para me manter vivo. Mas essa "obsessão" passou. Ainda bem que acordei a tempo. Em certo momento, entendi que nada no mundo é por acaso. Se eu fosse tão inútil quanto pensava, não teria sobrevivido. Se ninguém se importasse, não se preocupariam assim comigo. As pessoas só não gostam quando alguém é melhor. Na Esparta antiga, crianças doentes eram jogadas de um penhasco — se eu sobrevivi, é porque tenho um propósito maior. Quando eu tinha nove anos, minha mãe se suicidou. Cortou os pulsos. Eu não sabia. Só descobri nove anos depois, na formatura. Eu sempre estive sozinho. Mas agora estava mais do que nunca. Nunca esperei voltar para ela, mas saber que a imagem que cultivei por metade da minha vida simplesmente não existia... Quanto à minha avó, nunca soube nada. Entrei no curso de Letras, vivi no alojamento. Nem na escola, nem na faculdade consegui fazer amigos ou encontrar afeto mútuo. Muitas garotas se interessavam, mas eu não entendia suas intenções e mantinha distância. Também não sentia nada por elas. Estudei bem, não trabalhei, vivi de bolsa e auxílios. Depois da formatura, um mundo enorme se abriu. Passei a vida esperando isso: estudar, ser livre, ter todas as portas abertas. Na realidade, quase caí no desemprego, nas drogas, no álcool e fiquei sem-teto. Já estava sozinho há muito tempo, mas nunca completamente isolado. As ruas de Petersburgo não eram vazias. Mas sem comida ou teto, era a primeira vez. Passei por abrigos e casas de trabalhadores como luvas — e luvas, aliás, não tive por muito tempo. Depois me estabilizei: arrumei um emprego na biblioteca e aluguei um quarto no sótão. Embora os abrigos fossem piores que o orfanato, pelo menos ninguém se importava comigo, o que me servia. Foi difícil sair do lugar seguro, mas eu precisava crescer. Arranjei um bico como garçom, odiava cada minuto, mas pelo menos o dinheiro dava para mais do que o aluguel. Fui promovido na biblioteca e pude sair do café. Agora, finalmente, estou me estabelecendo. Dou aulas em uma escola, como sempre sonhei. Sinto que a vida está melhorando. fim da mensagemCapítulo 1
10 de abril de 2025 às 16:40
Da Terra ninguém os notou,
Mas o crepúsculo era claro,
Quando sobre a Terra voaram,
Envoltos em névoa escura.