ID da obra: 20

ursafobia

Slash
R
Finalizado
1
Obra promovida! 0
Pares e personagens:
Tamanho:
2 páginas, 1 capítulo
Descrição:
Publicação em outros sites:
Consultar o autor/tradutor
Compartilhar:
1 Curtir 0 Comentários 0 Para a coleção Baixar

Capítulo 1

Configurações de texto
A noite se aproximava. Montaram as barracas, só faltava juntar lenha e acender a fogueira, sorte que na taiga isso não faltava. O verão na Sibéria pode ser quente, mas ao anoitecer esfria, e dava vontade de se aquecer. — Fica aqui nas barracas, eu vou buscar lenha. — Espera, não vai! — Relaxa, Rusik, qual é o problema? — Ursos... — respondeu Ruslan com voz tensa, seus olhos claramente cheios de medo. — Tá com medo de urso? Acha que pra um cara da Sibéria isso não é meio exagerado? — Eu não tô com medo! Eles são perigosos mesmo! É você que me preocupa! — Tá óbvio que você tá com medo! — Dugar não parava. — Não tô! Se eu tenho medo de algo, é do seu bagre. Isso sim, que porra é essa? Meio lagosta, meio pinto? — Para de encher o saco! É só um tigre, a gente tá falando de ursos ou não? — ele se agachou perto de Ruslan, sentado num tronco. — Você sabe que ursos são animais diurnos, né? Dormem de noite, e de dia você não tem medo. Eles têm medo de fogo, então fica na barraca enquanto eu vou pegar lenha. Dugar foi embora, e Ruslan ficou sozinho. De novo... Ele odiava a solidão e o silêncio, odiava aquela taiga infinita, vazia e sem vida com toda a alma. As palavras de Irkutsk o aliviaram um pouco, mas o silêncio ensurdecedor trazia à tona milhões de pensamentos insuportáveis. Para abafar o barulho, Ruslan recitava poemas, pelo menos isso ajudava a afastar os pensamentos obsessivos. *"Quantos séculos, ó águas do Yenisei,* *Rolais das montanhas Sayan, onda após onda,* *Nós, os krasnoyarskianos, pelo nosso rio* *Abraçamos o país até o oceano.* *Até o oceano abraçamos...* *Quantos séculos, ó águas* *Do Yenisei..."* Quando não adiantava, ele lia em voz alta, cada vez mais alto. Quando Dugar saiu, ainda estava claro, mas parecia que já tinha passado meia hora, uma, duas, e ele não voltava. E além disso, sem ele, não haveria fogo. Felizmente, Irkutsk não demorou muito. Acenderam a fogueira, e Ruslan se sentiu mais calmo. Mesmo no meio da taiga escura e sem fim. Já estava completamente escuro. — Você nunca me disse que tinha medo de ursos, achei que gostava deles. Fomos ao circo ver os ursos, pensei que tinha gostado. — Bem... Não exatamente. — Ruslan ficou em silêncio. — Mas o que aconteceu? Deve ter algum motivo, né? Eles nem podem te fazer nada! Ou um urso já te mordeu? — Como te dizer... — Fala a verdade. — O que você quer que eu diga!? — ele gritou, sem aguentar mais. — Eu nem lembro direito! O cérebro às vezes apaga memórias ruins, já ouviu falar? — E não lembra nada mesmo? Desculpa se for indelicado, mas falar ajuda. — Lembra nos anos 700, quando você veio me visitar e seu cavalo morreu? — Dugar acenou afirmativamente. — Pois é. Eu te dei o meu cavalo e voltei a pé pela floresta... Krasnoyarsk ia continuar, mas foi interrompido. — Meu Deus, Rusik, pode parar, entendi... — Eu nem lembro do resto. Só de dois idiotas a cavalo que me abandonaram, nem lembro os nomes... — Me desculpa, não devia ter aceitado seu cavalo. — Não foi culpa sua, fui eu que ofereci... Se não, teriam comido o cavalo também, e ele não sabe regenerar braços. — a última frase foi dita com uma zombaria amigável, mas logo o riso se transformou numa tosse rouca. Pena que os pulmões não se regeneram tão fácil. O chá naquela noite estava especialmente gostoso.
1 Curtir 0 Comentários 0 Para a coleção Baixar
Comentários (0)